sábado, 28 de dezembro de 2013

Ciclo de Krebs


Terminada a glicólise, temos um saldo positivo de 2 ATP, 2 Piruvatos e 2 NADH. O Piruvato formado segue um dos seus três destinos: formação do etanol ou lactato (ambas são vias anaeróbicas); ou a formação da Acetil-CoA (via aeróbica - do Ciclo de Krebs). Os organismos mais desenvolvidos como o homem, transformam o Piruvato em Acetil-CoA. As células musculares podem seguir a via do Acetil-CoA ou do Lactato, sendo que esta não há um grande saldo de ATP, por isso é uma via utilizada em situações de emergência, como exercícios físicos sem preparação.
A via aeróbica do Ciclo de Krebs (Ciclo do Ácido Cítrico ou ainda Ciclo do Ácido Tricarboxílico- Ciclo TCA, pois algumas moléculas do ciclo possuem 3 carboxilas) é a mais complexa, onde o Piruvato é convertido, por um complexo enzimático, a Acetil-CoA, uma molécula de alta energia, com 2 carbonos. Ao final do ciclo e da Cadeia Transportadora de Elétrons, teremos um saldo positivo de 36 ATPs.
A glicólise, fase inicial da respiração celular ocorre no citoplasma das células. Agora, teremos o ciclo ocorrendo na matriz mitocondrial de todas as células do organismo.

Visão geral do CK
                                   

Piruvato à Acetil-CoA + Oxalacetato à Citrato (Ácido Cítrico) à destruição do citrato em várias reações à reações para formação do Oxalacetato à liberação de energia à elétrons soltos se ligam à molécula carregadora de elétrons,  NAD+ e FAD+, formando NADH e FADH2.


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Como o Piruvato é convertido em Acetil-CoA?


Para que o Piruvato entre na mitocôndria, ele deve se ligar ao Oxalacetato, mas para isso, ele necessariamente precisa ser convertido a Acetil-CoA, através do Complexo Piruvato Desidrogenase (PDH).
Este complexo é responsável pela conversão do Piruvato a CO2 e à porção acetil da Acetil-CoA. O Piruvato é uma molécula que contém 3 carbonos em sua estrutura, e ao entrar na mitocôndria, 1 carbono é retirado, saindo na forma de CO2. Resta o grupo acetil, que é fixada no –SH de uma substância conhecida como CoA (Coenzima A) formando a Acetil-CoA, por uma reação de oxidação:

Piruvato + CoA-SH + NAD+ à Acetil-CoA + CO2 + H+ + NADH


Nota-se que houve uma oxidação do acetil, liberando elétrons que foram utilizados para a produção do NADH.
O complexo é composto por 5 enzimas, sendo que a conversão exige 3 enzimas primárias do complexo, assim como os co-fatores TPP,FAD, NAD+ e ácido lipóico, além de que é ativado pelo ADP (adenosina difostato), logo há gasto de energia.
A conversão final será:
Piruvato, NAD+ e CoA-SH à Acetil-CoA, NADH + H+ e CO2.

ou melhor

Conversão do Piruvato a Acetil-CoA (foto adaptada)

Lembre-se que nós temos aqui 2 Piruvatos que foram produzidos na glicólise, sendo assim, esta reação ocorrerá em dobro. Nota-se ainda que até agora tivemos a liberação de um CO2 e um NADH.
Agora sim temos o Acetil-CoA, para iniciarmos o Ciclo de Krebs propriamente dito.

Ciclo de Krebs


O Ciclo de Krebs é a via metabólica central do nosso organismo, pois cada composto do ciclo está associado à uma via. Um exemplo disso é que o Acetil-CoA não é proveniente somente da glicose; pode ser produto de reações onde o composto inicial será aminoácidos ou ácidos graxos. O ciclo corresponde a uma série de reações químicas que acontece naturalmente em todas as células do organismo para a produção de energia. É um ciclo anfibólico, ou seja, atua tanto no catabolismo (decomposição oxidativa) quanto no anabolismo (síntese redutora de bioméculas).
É importantíssimo entender que a glicose que ingerimos possuía anteriormente 6 carbonos, e ela está sendo oxidada para a produção de energia. Na glicólise, a glicose foi dividida em 2 partes, ou seja, 2 piruvatos com 3 carbonos cada. Agora no Ciclo de Krebs, haverá dois momentos em que teremos a perca de mais 2 carbonos (etapa 3 e 4 – Descarboxilação oxidativa – que serão descritas abaixo), além do carbono que foi perdido na conversão do Piruvato à Acetil-CoA (mostrado anteriormente). Todos esses carbonos sairão na forma de CO2. Além dos carbonos, a glicose vai perdendo seus hidrogênios e elétrons, e portanto, dizemos que ela vai sendo oxidada gradativamente, e até o final do C.K. ela sofrerá uma oxidação completa.
Vimos até agora que o Piruvato foi oxidado a Acetil-CoA. Agora sim a molécula poderá entrar na mitocôndria.


Então vamos entender o ciclo por etapas:

Ciclo de Krebs (Ciclo do Ácido Cítrico) - Imagem da internet.

1- Formação do Citrato – Condensação

A Acetil-CoA então se combina com o Oxalacetato, em uma reação chamada de condensação, catabolizada pela enzima citrato sintase, sem gasto de energia. O produto desta reação será o Citrato. Nota-se que nesta etapa há a hidratação para que a CoA-SH se desligue do grupo acetil, e volte a ficar disponível para uma nova conversão do Piruvato.

2- Isomerização – Desidratação e Hidratação

O Citrato é convertido a Isocitrato, pela enzima aconitase. Nota-se nesta etapa uma fase de desidratação, seguida por uma hidratação.

3- Formação do α-cetoglutarato e de CO2 – Descarboxilação oxidativa

É a primeira oxidação, onde há a descarboxilação oxidativa do Isocitrato a α-cetoglutarato e liberação de CO2, pela enzima isocitrato desidrogenase. Ocorre a redução de um NAD+ a NADH, pela perda de 2 elétrons na oxidação.

4- Formação do Succinil-CoA e de CO2 - Descarboxilação oxidativa

É a segunda oxidação, onde há a descaboxilação do α-cetoglutarato, formando o Succinil-CoA e CO2. Ocorre a liberação de elétrons, e consequente redução de mais um NAD+ a NADH. A reação é catalisada pelo complexo de cetoglutarato desidrogenase.

5- Formação do Succinato e de um GTP

A reação de conversão do Succinil-CoA a Succinato é catalisada pela enzima succini-CoA sintase. Nota-se a presença de uma molécula de GDP (difosfato de guanina), que foi fosforilada formando uma molécula de GTP (trifosfato de guanina). O GTP nada mais é que um composto de alta energia, como o ATP. Rapidamente a célula troca a guanina pela adenosina, então pode-se dizer que nesta etapa há a produção de um ATP.

6- Formação do Fumarato – Desidrogenação
O Succinato é convertido à Fumarato pela enzima succinato desidrogenase. Como há desidrogenação, nota-se a redução de uma molécula de FAD a FADH2. O FAD nada mais é que um aceptor de elétrons, assim como o NAD, que transportará os elétrons para a última parte da respiração celular.

7- Formação de L-Malato – Hidratação

A enzima fumarase catalisa a reação de conversão do Fumarato a Malato, e para isto, observa-se uma molécula de H20 presente na reação (hidratação).

8- Regeneração do Oxalacetato – Desidrogenação

O Oxalacetato que havia sido ligado à molécula de Acetil-CoA para que ela entrasse na mitocôndria, e se perdeu durante a série de reações do ciclo. Então, nesta última etapa o Oxalacetado deve ser regenerado, liberando mais um elétron, para que o ciclo continue e ele novamente possa se ligar a uma nova molécula de Acetil-CoA. A enzima presente nesta reação é a malato desidrogenase, e nota-se a redução de outra molécula de NAD+ a NADH.

Temos então o seguinte saldo:
·      3 moléculas de CO2 (uma molécula foi formada na conversão do Piruvato à Acetil-CoA, e outras duas das etapas 3 e 4, de descarboxilação oxidativa do ciclo de Krebs. Além do CO2 formado na conversão do Piruvato, para cada Acetil-CoA que entra na célula, são mais 2 CO2 formados.)
·      1 molécula de FADH2.
·      4 moléculas de NADH (três formadas no Ciclo de Krebs e uma formada a partir do complexo piruvato desidrogenase – na formação do Acetil-CoA).
·      1 molécula de ATP (na forma de GTP).

LEMBRE-SE!!! Inicialmente tínhamos 2 piruvatos, e então temos este processo acontecendo em dobro!!! Sendo assim, são 6 moléculas de CO2, 2 moléculas de FADH2, 8 moléculas de NADH e 2 moléculas de ATP.

Cadeia Transportadora de Elétrons


Para a reconstituição do Oxalacetato no Ciclo de Krebs, várias reações aconteceram quebrando ligações. Se há quebra de ligações, consequentemente há liberação de energia e vários elétrons soltos. Então, estes elétrons se ligarão às moléculas carregadoras de elétrons NAD+ e FAD, que farão este transporte na forma de NADH e FADH2, gerados na glicólise e no Ciclo de Krebs. Até aqui vocês já sabem, e está tudo ok. Sabemos também que se somarmos todos as moléculas carregadoras de elétrons (formadas na glicólise e no C.K.) temos 10 NADH e 2 FADH2.
Agora NADH e FADH2 irão transferir os elétrons para o oxigênio (O2) numa série de reações em quatro complexos de múltiplas subunidades ligados à membrana e em dois transportadores de elétrons móveis (a coenzima Q e o citocromo C). Estes complexos formam a Cadeia Transportadora de Elétrons (a Fosforilação Oxidativa), que se encontra nas cristas mitocondriais. As reações que ocorrem em três destes complexos geram energia suficiente para acionar a fosforilação de ADP a ATP. Esta energia é proveniente do bombeamento de íons H+ da matriz mitocondrial para o espaço intermembranas.
Então o que ocorre na cadeira é a oxidação do NADH e FADH2 a NAD+ e FAD. Os prótons serão liberados na matriz da mitocôndria e bombeados pelos três complexos iniciais da cadeia para fora da matriz, ficando no espaço intermembranas, como dito anteriormente. Os elétrons serão conduzidos por uma série de proteínas transportadoras até o oxigênio (O2), que é o aceptor de elétrons da cadeia. Este oxigênio presente na cadeia é o mesmo oxigênio da respiração que chega às células através da hemoglobina do sangue, por isso a nossa respiração é tão importante.
Ao receber os elétrons, o O2 se ligará a prótons (que constantemente estarão na matriz, obviamente em menor quantidade que no espaço intermembranas), formando água, que será normalmente utilizada pela célula. Este é um processo de oxi-redução e, portanto, há a liberação de mais elétrons.
Para a formação do ATP a partir da fosforilação do ADP, há a última subunidade da cadeia, a APTsintase. Esta enzima tem um canal por onde passam os prótons que flutuam no espaço intermembranas até a matriz mitocondrial. O fluxo de prótons por este canal faz com que a enzima literalmente gire, promovendo a fosforilação do ADP em ATP, ou seja, produzindo energia.

Entenda que:
O FADH2 carregam elétrons com menos intensidade de energia que o NADH. Assim, os FADH2 liberam energia para bombear apenas dois pares de H+, e os NADH três pares de H+. Sendo assim, teremos que um FADH2 “produzirá” 2 ATPs, um NADH “produzirá” 3 ATPs.

Ao final de todos os processos, nós temos o seguinte saldo:

Glicólise
2 ATP
2 NADH, que produzirão mais 4 ATPs.

Ciclo de Krebs e Cadeia Transportadora de Elétrons (ou Fosforilação Oxidativa)
2 ATP
8 NADH, que produzirão 24 ATPs.
2 FADH2, que produzirão 4 ATPs.

Total: 36 ATPs, 10 NADH e 2 FADH.

Em alguns livros, pode-se encontrar a quantidade final de 38 ATPs.


Bônus:
Regulação da velocidade do Ciclo de Krebs e do Completo Piruvato Desidrogenase (PDH)


Regulação - Imagem retirada do site Bioquímica's Home Page

Para todas as atividades nós precisamos que o C.K. esteja ativado, mas dependendo da atividade, a sua velocidade deve ser diminuída. A célula evita os chamados ciclos fúteis, que são aqueles desnecessários, pois já há uma boa quantidade de energia. O controle do C.K. é exercido em três pontos, sobre as enzimas.
Há também o controle de acesso ao ciclo pelo complexo piruvato desidrogenase. O PDH é ativado por ADP, que é abundante quando a célula precisa de energia. Em situações em que não precisamos de muita energia, pode-se inibir a enzima piruvato desidrogenase para bloquear a formação de muita Acetil-CoA proveniente do Piruvato. A inibição da piruvato desidrogenase ocorre pelo ATP e por altos níveis de Acetil-CoA. Isso porque o excesso de ATP evita que a enzima e ligue ao substrato que é o Piruvato.
Se a piruvato desidrogenase não for inibida, a Acetil-CoA entra na célula e forma o Citrato; e isto formará ainda mais energia, provocando um excesso.
Caso não haja esta regulação, e o Citrato acabe sendo formado, a célula ativará a enzima citrato liase, que quebra o Citrato em Oxalacetato e Acetil-CoA novamente. A Acetil-CoA que não é usada no C.K. é reservada dentro da célula, e formará ácidos graxos (gordura).

Exercício de Bioquímica ( Krebs ).


  1. Escrever a reação de formação de acetil-CoA a partir de piruvato e indicar:
  1. as 5 coenzimas necessárias; R- (TPP, FAD, CoA, NAD e lipoato).
  2. as vitaminas envolvidas;R- Tiamina (B1),riboflavina (B2),ácido pantotênico (CoA) (B5),niacina (nicotinamida) (B3) e ácido lipóico
  3. a localização celular; R- na mitocrôndias e no citosol


  1. Descrever a regulação alostérica e por modificação covalente do complexo da piruvato desidrogenase.
R- O complexo é formado por 3 enzimas e 5 coenzimas
As enzimas do complexo têm resíduos de serina, modificáveis por fosforilação
As enzimas do complexo quando fosforiladas (por quinases) são inativas
As enzimas do complexo quando desfosforiladas (por fosfatases) são ativas
Além das 3 enzimas, o complexo tem uma quinase e uma fosfatase associadas
Os produtos da via, NADH e acetil-CoA, bem como ATP são efetores alostéricos
negativos das enzimas do complexo
NADH, Acetil-CoA e ATP ativam a quinase (e inibem o complexo)
A diminuição de NADH, Acetil-CoA e ATP ativam a fosfatase (e ativam o complexo)
A insulina ativa fosfatases no geral, tendo o mesmo efeito, bem como o Ca2+ e Mg2+
O excesso de acetil-CoA e NADH provenientes da β-oxidação durante o jejum inibem a síntese de acetil-CoA a partir de piruvato, favorecendo a gliconeogênese.


  1. Na oxidação de uma molécula de acetil-CoA no ciclo de Krebs, indicar a enzima que catalisa a reação onde há produção ou consumo de:
  1. CO2
  2. GTP
  3. NADH
  4. FADH2
  5. H2O


  1. Indicar o composto rico em energia do ciclo de Krebs e a reação que produz.
R- Adenosina triforfato(ATP); a energia armazenada nos ATPs é liberada para as funções corpóreas através da seguinte reação:

ATP -> ADP + P + Energia onde ADP é adenosina difosfato.


  1. Citar os compostos que devem ser fornecidos ao ciclo de Krebs para:


  1. Iniciá-lo
  2. Mantê-lo em funcionamento
Resposta:

Primeira reação

Para que se inicie a primeira reação e iniciar a volta é preciso que o grupo acetila ou acetil-CoA transfira o seu grupo acetil para um composto com quatro átomos de carbono, chamado de oxaloacetato, formando assim o citrato, um composto com seis átomos de carbono.



Segunda reação

Após a formação do citrato, o mesmo é transformado em isocitrato, uma molécula com seis átomos de carbono.

Terceira reação

Entretanto, o isocitrato é desidrogenado, perdendo CO2, o que dará origem ao alfa-cetoglutarato, um composto com cinco átomos de carbono.

Quarta reação

O alfa-cetoglutarato também perde uma molécula de CO2, liberando um composto chamado de succinato, uma molécula com quatro átomos de carbono.

Quinta reação

O succinato, por ação de diversas enzimas em uma reação seguida de três passos dá inicialmente origem ao fumarato.

Sexta reação

O fumarato por ação de várias enzimas e a entrada de uma molécula de H2O dá origem ao malato.

Sétima reação

O malato, por sua vez, através da saída de uma molécula de H2 dá origem ao oxaloacetato, um composto com quatro átomos de carbono.

Oitava reação

O oxalacetato é o que dará início ao ciclo, pois é neste momento que o mesmo está pronto para reagir com uma próxima molécula de acetil-CoA, iniciando o ciclo novamente.
Entre as reações no Ciclo de Krebs há a formação de 3 moléculas de NADH que dá origem há 2,5 ATP cada uma, uma molécula de FADH2 que dá origem há 1,5 ATP e uma molécula de GTP que dá origem a um ATP.
  1. Citar as vitaminas que participam do ciclo de Krebs.
R- B2, N e B1.


  1. Indicar a localização celular do ciclo de Krebs.
R- Ciclo de Krebs é uma das etapas da respiração celular e ocorre na matriz da mitocôndria.


  1. Na reação catalisada pela aconitase, indicar o composto predominante no equilíbrio.
R- Citrato um composto que não se acumula na mitocôndria enquanto se processa a oxidação de isocitrato.
  1. Listar as funções do ciclo de Krebs.
R- A principal função do Ciclo de Krebs é oxidar os compostos e queimar as gorduras dos compostos. O Ciclo de Krebs é uma via de alta energia, pois produz três moléculas de NADH, uma de FADH2 e um composto de alta energia o GTP.


  1. Analisar as reações do ciclo do Glioxilato, verificando a conversão que é por ele viabilizada.
R- Permite a síntese de glicose e a produção de intermediários do ciclo de Krebs a partir de acetil-CoA. Por isso mesmo essa via conta com a presença de enzimas do ciclo de Krebs (citrato-sintase e aconitase) além de duas enzimas ausentes nessa via (isocitrato liase e a malato sintase).
No ciclo de Krebs, o isocitrato é convertido em succinato, enquanto que no ciclo do glioxilato, o isocitrato origina o succinato e o glioxilato. O succinato regenera o oxaloacetato e o glioxilato se condensa com acetil-CoA formando o malato. Este vai passar para o citosol, onde origina oxaloacetato, que pode ser transformado em glicose pela neoglicogênese. O ciclo de glioxilato desta forma permite a conversão de acetil-CoA e, portanto, de ácidos graxos, a glicose.




  1. Citar os organismos que dispõem do ciclo do Glioxilato.
R- É uma via alternativa de metabolismo de acetil-CoA, encontrada nos vegetais e em algumas bactérias.


  1. Quando a glicose é metabolizada a acetil-CoA, citar o número de moléculas de ATP, NADH e CO2 formadas.
R- O saldo energético por etapa da respiração: - Glicólise
São utilizadas 2 moléculas de ATP para ativar o catabolismo da molécula de glicose, porém são formadas 2 moléculas de NADH, 4 ATP e 2 moléculas de piruvato. Portanto, o saldo energético somente da cadeia respiratória é de: 4 ATP + 2 NADH – 2 ATP → 2 ATP + 2 NADH




  1. Que composto é oxidado no ciclo de Krebs?
R- A oxidação do acetilCoA, a duas moléculas de CO2, e conserva parte da energia livre dessa reação na forma de coenzimas reduzidas, que serão utilizadas na produção de ATP na fosforilação oxidativa, a última etapa da respiração celular.


  1. Simultaneamente que tipo de composto sofre redução?
R- coenzimas reduzidas


  1. Descrever a regulação do ciclo de Krebs em função das relações ATP/ADP e NAD+/NADH.
R- A respiração aeróbia é o processo pelo qual a célula degrada compostos orgânicos (carboidratos) para obtenção de energia metabólica armazenada na molécula de Adenosina Trifosfato - ATP, com produção de compostos inorgânicos dióxido de carbono (CO2) e água (H2O). A respiração aeróbia é didaticamente subdividida em três etapas associadas: a glicólise, o ciclo de Krebs e a cadeia respiratória, existindo diferenças entre os organismos procariontes e eucariontes.
Como as células procarióticas são desprovidas de mitocôndrias (organela citoplasmática), tanto a glicólise quanto o ciclo de Krebs ocorrem no hialoplasma da célula, enquanto a cadeia respiratória acontece próximo à face interna da membrana plasmática (mesossomo).
Nas células eucarióticas, a glicólise também acontece no hialoplasma, contudo por se tratar de uma célula provida de mitocôndria, as etapas referentes ao ciclo de Krebs e a cadeia respiratória ocorrem necessariamente no interior dessa organela.
Nesse mecanismo são produzidos ATD de forma direta, no entanto, são formadas moléculas (FAD e NAD) receptoras de prótons H+, sendo cada molécula de FADH2 e NADH responsáveis pela reconstituição respectiva de 2 e 3 moléculas de ATP.
O saldo energético por etapa da respiração:
- Glicólise 
São utilizadas 2 moléculas de ATP para ativar o catabolismo da molécula de glicose, porém são formadas 2 moléculas de NADH, 4 ATP e 2 moléculas de piruvato. 
Portanto, o saldo energético somente da cadeia respiratória é de: 
4 ATP + 2 NADH – 2 ATP → 2 ATP + 2 NADH

- Ciclo de Krebs
A partir dessa etapa todo o resultado deve ser dobrado (duplicado), essa consideração é conseqüente do ciclo de Krebs envolvendo cada molécula de piruvato. 
Assim, são formadas 4 moléculas de NADH, 1 de FADH2 e 1 de ATP em cada ciclo. 
2 x (4 NADH + 1 FADH2 + 1 ATP) → 8 NADH + 2 FADH2 + 2 ATP
- Cadeia respiratória 
Etapa de conversão das moléculas de NADH e FADH2 em moléculas de ATP, quando os prótons H+ por difusão são forçados a passar pela proteína sistetase ATP (enzima transmembranar) restituindo ADP em ATP. 
2 NADH da glicólise → 6 ATP 
8 NADH do ciclo de Krebs → 24 ATP              34 ATP
2 FADH2 do ciclo de Krebs → 4 ATP
Balanço Energético da Respiração Aeróbia 
Glicólise = 2 ATP 
Ciclo de Krebs = 2ATP 
Cadeia respiratória = 34 ATP 
Total energético da respiração celular aeróbia = 38 ATP 


  1. A síntese de porfirinas inicia-se com a condensação de succinil-CoA e glicina. Como pode ser mantido o nível dos compostos intermediários do ciclo de Krebs quando esta síntese ocorre?
R- O aminoácido glicina reage com o succinil-CoA (um intermediário metabólico do ciclo dos ácidos tricarboxílicos), formando o ácido α-amino-β-cetoadípico. Este é então descarboxilado a δ-aminolevulinato.


  1. O Beribéri é uma moléstia ocasionada por deficiência de tiamina. Nos portadores desta moléstia,


  1. Que compostos aparecem em níveis plasmáticos elevados?
  2. Que metabolismo é mais afetado: o de carboidratos
  3. Que tecidos seriam mais precocemente afetados?Fígado e coração, e, em menor quantidade, no cérebro e tecido muscular.


  1. Na oxidação completa da glicose, indicar as reações onde há formação de CO2.
R- Visão geral da oxidação completa de glicose, até CO2:
  • Se processa no citossol e baseia-se na conversão de glicose(C6) a 2 piruvato( 2C3) por meio reações sucessivas - glicólise-, uma via metabólica importante para os seres vivos. Seus produtos são ATP, H+ + e-(recebidos por coenzimas) e piruvato;
  • A posterior oxidação do piruvato( composto de três carboos) é feita no interior da mitocôndria, onde sofre uma descarboxilação, e converte-se em um composto com dois carbonos(C2), que combina-se com um composto de quatro carbonos(C4), dando um composto de seis carbonos(C6). Por meio do ciclo de Krebs, C6 perde dois carbonos sob a forma de CO2 e regenera C4;
  • Na mitocôndria, o piruvato é oxidado a CO2, e ao mesmo tempo há a produção de grande quantidade de (H+ +e-), recebidos por coenzimas. Com oxidação destas coenzimas origina-se a grande produção de ATP obtida pela oxidação adicional do piruvato, totalizando aproximadamente 90% do total obtido com a oxidação completa da glicose;
  • O piruvato origina acetil-CoA, por descarboxilação oxidativa. O processo é irreversível e consiste basicamente na transferência do grupo acetila, proveniente da descarboxilação do piruvato, para a coenzima A.

  1. Animais de laboratório foram alimentados com dietas diferentes, cada uma contendo um dos seguintes compostos, marcado com C14. Indicar os casos em que seria possível encontrar glicose radioativa nos animais.


  1. Oxaloacetato
  2. Acetato
  3. Palmitato
  4. Piruvato
  5. Etanol
  6. Glicerol
  7. Citrato
  1. Por que plantas e bactérias são capazes de converter ácidos graxos em glicose e mamíferos não?
R- Os ácidos orgânicos simples podem ser convertidos em monosaccharides tais como a glicose e então ser usados para montar polisacáridos tais como o amido. A Glicose é feita do piruvato, lactato, glicerol, fosfato do glycerate 3 e os ácidos aminados e o processo são chamados gluconeogenesis. O Gluconeogenesis converte o piruvato a glucose-6-phosphate com uma série de intermediários, muitos de que são compartilhados com a glicólise.
Os ácidos Geralmente gordos armazenados como tecidos adiposos não podem ser convertidos à glicose com o gluconeogenesis porque estes organismos não podem converter o acetil-CoA no piruvato. Esta é a razão pela qual quando há uma inanição a longo prazo, seres humanos e outros animais precisam de produzir corpos de cetona dos ácidos gordos para substituir a glicose nos tecidos tais como o cérebro que não pode metabolizar ácidos gordos.
As Plantas e as bactérias podem converter ácidos gordos na glicose e utilizam o ciclo do glyoxylate, que contorneia a etapa do decarboxylation no ciclo de ácido cítrico e permite a transformação do acetil-CoA ao oxaloacetate. Desta glicose é formado.
Glycans e os polisacáridos são complexos de açúcares simples. Estas adições são tornadas possíveis pelo glycosyltransferase de um doador reactivo do açúcar-fosfato, tal como a glicose do diphosphate do uridine (UDP-glicose), a um grupo de hidróxilo do autómato no polisacárido crescente. Os grupos de hidróxilo no anel da carcaça podem ser autómatos e assim os polisacáridos produzidos podem ter em linha recta ou estruturas ramificadas. Estes polisacáridos assim que formado podem ser transferidos aos lipidos e às proteínas pelas enzimas chamadas oligosaccharyltransferases.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Três faces da mulher na literatura Luciana Guedes (UFF) Sebastião Votre (UFF) O trabalho relaciona textos que têm temática amorosa feminina. Obras em verso escritas por mulheres ou que têm vozes femininas (quando escritas por homens), pertencentes a épocas distintas. Para tanto, são analisadas cantigas de amigo de cinco trovadores portugueses do século XIII, poemas de cinco poetisas brasileiras do século XIX e o Cântico de Salomão das Escrituras Hebraicas (século XI a.C.). A sulamita diz: “Vem deveras, ó meu querido, saiamos ao campo, pousemos entre as plantas de hena (...) Ali te darei as minhas expressões de afeto" (CANTICOS, 1986). Também o trovador Dom Dinis usa a voz feminina: “Ai flores do verde ramo,/se sabedes novas do meu amado!” (VIEIRA, 1987: 127). E Ildefonsa Laura César, poetisa brasileira do século XIX, exclama: “Enquanto o sol ardente/deixa passar o calor,/cheirosas flores enrama/ para as dar ao meu amor.” (MUZART, 2000: 151) Esses são exemplos da relação entre os textos: os três têm a presença da mulher como eu- lírico, do seu amado e da natureza como protetora e amiga. Embora se situem em épocas distintas, mantém similaridades, por exemplo, o desejo da mulher, e não apenas ela como objeto desejado. O trabalho trata dos seguintes tópicos - a biografia dos autores, o contexto histórico- social, os estilos de época, mulher falante vs. mulher objeto e eu- lírico vs. autor. Entre as cantigas de amigo e as poesia do século XIX é possível perceber ainda a evolução e a permanência de estruturas da língua portuguesa. Ao pesquisar o Cântico de Salomão mostro uma mulher com atitude e vontade, descritas por Salomão, a quem ela rejeitou. Relacionar com as cantigas de amigo traça a diferença entre a atitude feminina bem retratada e a voz da mulher usada para o interesse masculino. E a poesia brasileira feminina do século XIX resgata a visão da mulher em um mundo essencialmente masculino, no qual era descrita pela visão do homem (e.g.: Diva de José de Alencar e Helena de Machado de Assis). Pretendo chamar atenção para a produção literária feminina e dar uma contribuição aos estudos já existentes sobre o papel da mulher na sociedade e na literatura. Já que a pesquisa sobre as mulheres na literatura é bastante comum, o estudo das mulheres como personagens e como escritoras, não só na literatura mas em vários campos, como sociologia, história, psicanálise etc. Desenvolveu-se também a pesquisa de gênero, que mais do que apenas um estudo do papel da mulher é um estudo das relações homem/mulher e das diferenças que a sociedade delimita para estes; e neste campo há um sem número de trabalhos, feministas ou não. O objetivo desta pesquisa não é detectar se há ou não diferenças entre homens e mulheres, ou descobrir o porquê da diferença social entre estes e, muito menos, assumir uma postura radical feminista. O trabalho pretende apenas apresentar a mulher como escritora e chamar atenção para diferentes usos, por homens, da voz feminina na literatura, concordando em alguns momentos com Foucault quando diz que considera uma “indigna loucura” falar pelo outro (BRITO, 1998: 144). Portanto a proposta é fazer um trabalho de análise de textos masculinos e femininos, sempre com vozes femininas, e não uma pesquisa de gênero. Seria mais fácil se pudesse fazer um análise atemporal dos textos escolhidos, mas para compreendermos as mulheres citadas é preciso enquadrá-las em seu tempo, sua sociedade e sua condição social. Ao selecionar para pesquisa o Cântico de Salomão, entramos no universo israelita do século XI a.C. e ,talvez, o leitor possa pensar que a sociedade israelita, por ser patriarcal, reprimia as mulheres, mas, como veremos no desenvolvimento, essa não era a realidade. No Pentateuco, parte dos textos fundadores judeus, encontramos passagens que determinam o respeito à mulher e seus direitos, por exemplo, em Gênesis 2: 20, Moisés, sob inspiração divina, escreveu que a mulher seria uma ajudadora para o homem, o texto não fala que deveria ser uma serva ou escrava. Também o livro de Deuteronômio 31: 12 relata a mulher participando de uma atividade da comunidade como igual ao homem, quando Moisés ordena que todo o povo esteja presente para a leitura da Lei, ‘homens, mulheres, pequeninos e residentes forasteiros’. Agora demos um salto para o século XIII d.C., numa sociedade essencialmente católica portuguesa. Percebemos, ao analisar algumas cantigas trovadorescas de amigo, o uso da ironia para desvalorizar a mulher, muitas vezes fazendo um jogo de construção e desconstrução, valorizando a mulher e desvalorizando o homem que não consegue conquistar uma dama para depois debochar da mulher. A sociedade da época, da qual faziam parte os homens que escreveram as cantigas, estava inserida no contexto de uma religião que exclui as mulheres dos papéis importantes na adoração e proibi os que conduzem a adoração de manterem relações sexuais com elas, pela lei do celibato. O outro campo de análise são poesias escritas por mulheres brasileiras no século XIX d.C., mulheres burguesas que desafiaram sua sociedade ao criticar os padrões que as excluíam da política e da literatura, e as colocavam no “seu lugar”, no âmbito doméstico, cuidando dos filhos e do marido. Algumas poesias tratam de amores proibidos pela sociedade, que aconteceram e foram reprimidos ou que nem tiveram a chance de acontecer. No desenvolvimento, entraremos mais a fundo nos textos, nos contextos histórico- sociais e numa rápida biografia dos/as autores/as. O Cântico de Salomão Escrito por Salomão em Jerusalém no ano de 1020 a. C., mereceu o seguinte comentário do rabino judeu Akiba ( 1º século d.C.): " O mundo inteiro não era digno do dia em que este sublime cântico foi dado a Israel" (Míxena Judaica: Yadakim 3: 5). Também Clarke diz que é " um cântico de extrema perfeição, um dos melhores que já existiram ou que foram escritos." (CLARKE. Commentary . vol.III, p. 841; 1Reis 11: 3) O seu escritor foi o grande rei Salomão de Israel, filho do rei Davi, da linhagem de Judá, e de Bate- Seba. Construiu em seu reinado (1037-998 a. C.) edifícios governamentais e fez grandes obras no território sob seu domínio, incluindo a construção de cidades- armazéns e grandes muralhas e o primeiro templo para a nação adorar a Jeová, no monte Moriá. Tornou-se um grande comerciante mundial, sua renda anual em ouro era US$ 256,643,000. Não só era o rei mais rico de sua época como também era um rei sábio, tornando a nação próspera e feliz. Também era um admirador das artes, possuía em sua casa e no templo harpas e instrumentos de corda e escreveu alguns Salmos, Provérbios e Eclesiastes (livros bíblicos). Amava muitas mulheres, e dentre suas esposas estava uma filha de Faraó. No fim de sua vida, tinha 700 esposas e 300 concubinas (Gênesis 3: 20). O famoso cântico é um poema idílico, inserido na poesia hebraica do século XI a.C. Salomão retrata a história de quando não conseguiu impressionar e conquistar uma jovem simples por quem se enamorou. O poema possuí três personagens principais: Salomão, a sulamita e um pastor. A história se passa, inicialmente, perto de Suném, ou Sulém (atual Sulam), terra natal da sulamita, onde Salomão está acampado com sua comitiva e para onde a sulamita vai à procura de seu amado pastor. Salomão a detém em seu acampamento e a leva para Jerusalém, para onde o pastor vai, seguindo sua amada. Num momento raro da literatura, o autor relata as belas juras de amor da sulamita, do pastor e dele mesmo e o desfecho - Salomão a deixa partir, reconhecendo seu fracasso em conquistá-la e, nos versos, eterniza a sublime união do pastor com sua amada sulamita. Em vários momentos Salomão escreve em voz feminina, da sulamita, expressando o grande amor que ela sentia pelo pastor e a recusa de unir-se a Salomão. Usa a voz feminina mas não deturpa a história para mostrar mais uma conquista; com honestidade, mostra admiração por aquele grande amor e pela firmeza da sulamita. A expressão hebraica para mulher, 'ish.sháh, significa literalmente "homem feminino". A sociedade israelita dos tempos bíblicos era patriarcal, na qual a mulher era criada para casar e ter filhos e era vista como ajudadora para o homem; nas Escrituras Hebraicas, a primeira mulher da humanidade chama-se Eva, que em hebraico, Hhaw.wáh, tem o significado de vida ou vivente, porque ela tornar-se-ía " mãe de todos os viventes"8 . A mulher hebréia deveria servir a Deus em primeiro lugar e, depois, obedecer ao marido e instruir os filhos. As moças eram treinadas na arte de cozinhar, tecer e administrar a casa. Mas, embora fosse o pai que escolhesse a esposa para o filho, a mulher podia expressar sua vontade e não se tornava uma esposa calada, tinha liberdade para se expressar com o marido e às vezes ajudava-no a tomar decisões. Possuía seus direitos e deveres dentro da Lei, por exemplo, a Lei aplicava-se igualmente tanto aos homens como às mulheres culpados de adultério, já que a poligamia era regulamentada, e elas podiam participar dos benefícios dos sábados e nas festividades. A Lei também ordenava que ambos, o pai e a mãe, fossem obedecidos. É a esta sociedade que o poeta Salomão pertencia. As cantigas de amigo As cantigas de amigo são um tipo dentre as cantigas do Trovadorismo, poesias feitas para serem entoadas nas ruas acompanhadas por música. Compostas por trovadores, cantadas por eles mesmos ou apenas por cantores, os jograis; assim eram as cantigas portuguesas do século XIII. No início deste século, Portugal vivia, sob o reinado de D. Afonso II, um período de desenvolvimento comercial e expansão econômica e a consolidação de uma sociedade extremamente religiosa católica e com resquícios e influências do domínio árabe na região. Já no final do século, o rei D. Dinis incentivou a cultura nacional, determinando que os documentos oficias fossem escritos em português e não mais em latim e criando a primeira universidade portuguesa, a Universidade de Coimbra. Na literatura medieval havia a poesia lírica francesa, escrita em provençal, a poesia ibérica épica, em castellano, e a poesia ibérica lírica, em galego- português; é a esta última que as cantigas de amigo pertencem. Estas possuem um caráter local e, por comunicarem-se por via oral, são rítmicas e versificadas. As cantigas de amigo eram compostas por homens usando a voz feminina, tratavam de temas femininos, como o da mulher só, cujo "amigo" (amado/amante) foi para a guerra ou para o mar, o da mulher abandonada e o da mulher feliz. Estas cantigas, provavelmente, são influência da literatura árabe, na qual um gênero de cantares é a regueifa, que usa temas femininos, escritos por homens como se fossem mulheres. Na maior parte das cantigas os trovadores usam a voz da mulher para transmitir o ponto de vista masculino sobre sentimentos e atitudes femininos e ironizar a mulher que tentava transgredir os padrões sociais, usando o tema do amor, da coita (ou sofrimento) e da morte por amor. Na sociedade portuguesa do século XIII as mulheres, mesmo as damas da corte, não tinham um papel importante, ou mesmo um papel, na produção intelectual. A maioria delas nem sabiam ler e escrever, viviam para criação dos filhos e cuidar do marido, escolhido por seus pais, muitas vezes por interesses econômicos, eram mulheres mudas social e intelectualmente, não tinham o direito de expressar o que sentiam ou o que achavam sobre o mundo. Tinham apenas o dever de serem obedientes esposas e fervorosas católicas. O pouco que sabemos sobre como, realmente, eram é por mulheres que desobedeceram a sociedade, como as trobairitz francesas, que dominaram a escrita e penetraram no mundo intelectual, escrevendo trovas e contos que demonstraram que as mulheres sentem, desejam e lutam pelos seus homens. As poesia do século XIX Trato aqui de poesias escritas por mulheres no Brasil do século XIX. Inseridas em um contexto intelectual essencialmente masculino. Época dos grandes escritores do Romantismo que em sua obras resgatavam mitos nacionais, criticavam a sociedade burguesa e mostravam sua visão do mundo através da história de grandes e marcantes personagens femininas: burguesas e mulheres simples que entraram para a história da literatura da literatura brasileira como retratos de uma época; retratos pintados por homens inseridos em uma sociedade machista. Sociedade que cultivava nas mulheres os valores essenciais: donas- de- casa exemplares, mães dedicadas, zelosas católicas e habilidosas bordadeiras, grandes damas da sociedade etc. Enquanto qualidades consideradas masculinas, como escrever e participar da política, eram socialmente vetadas; a elas cabia apenas o papel de ler os folhetins. O Brasil da época crescia com o café e nele também crescia o gosto pelos salões do império ao mesmo tempo que o sonho da república. Grandes políticos e jornais começaram a incentivar a criação da república e a defender o fim da escravidão. E mulheres corajosas passaram a defender em artigos de jornais e revistas femininas o direito ao voto. Sempre existiram mulheres que enfrentaram a sociedade de sua época e, no século XIX no Brasil, grandes poetisas expuseram seus sentimentos e suas opiniões em sonetos, quadras, liras, em fim, em versos. As poesias selecionadas são de mulheres escrevendo em primeira pessoa sobre suas ilusões e desilusões amorosas e declarando seu amor a um desejado homem. São poesias com as características marcantes do Romantismo, só que escritas por mulheres que nos deixaram uma amostra de quem elas realmente eram. As relações A relação da mulher com a natureza e com uma amiga é similar no Cântico de Salomão e nas cantigas de amigo. No Cântico a sulamita conversa com as mulheres de Jerusalém e com algumas damas da corte de Salomão, sempre numa relação de confidência; e em algumas cantigas vemos a mulher falar do amigo com a mãe e receber conselhos dela. Tomemos como exemplo este trecho em que a sulamita fala sobre si mesma às mulheres de Jerusalém: “Sou uma moça preta, mas linda, ó filhas de Jerusalém./ Se tu não sabes, ó mais bela entre as mulheres, sai tu mesma nas pegadas do rebanho e apascenta tuas cabritinhas.” (CÂNTICOS, 1: 5). Também, Joam Garcia de Guilhade, trovador da segunda metade do século XIII, que pertencia à pequena nobreza portuguesa e tem em sua obra 21 cantigas de amigo, em uma das cantigas diz na voz da mulher: “Quer’eu amigas, o mundo loar/por quanto bem mi nostro Senhor fez: /fez-me fremosa e de mui bom prez,/as faz meu amigo muit’amar” (VIERA, 1987: 109). Continuando na relação cantiga- Cântico destaco duas declarações a homens amados- uma feita pela sulamita a seu pastor e outra por um eu- lírico duma cantiga- a sulamita exclama: “ Beije-me ele com os beijos da sua boca. Teu nome é como um óleo que se despeja. Por isso é que te amaram as próprias donzelas” (CÂNTICOS, 1: 2,3). E recebe a resposta: “Como lírio entre as plantas espinhosas, assim é minha companheira entre as filhas.” (CÂNTICOS, 2: 2) Agora o trovador canta: “Tal vai o meu amigo/com amor que lh’eu dei,/come cervo ferido” (VIERA, 1987: 103). E ouve a advertência: “E guardade-vos, filha,/ ca ja m’eu atal vi/ que se fezo coitado/ por guaanhar de mim.” (Idem, Ibidem) encontrando uma resposta muda de seu amado. Nas cantigas de amigo, nas poesias do século XIX e no Cântico de Salomão é marcante a presença da natureza, atuando como protetora e amiga ou servindo para descrever o ser amado. Infelizmente a natureza também é usada para ironizar- em uma das cantigas a mulher dialoga com um papagaio, que abre seus olhos quanto a que foi abandonada. Falo de uma cantiga do rei de Portugal (1279-1325), Dom Dinis, que procurou seguir uma política de proteção e desenvolvimento da cultura e compôs, dentre outras, 51 cantigas de amigo: “Amigo loução,/que faria per amores / pois m’erraste tam em vão?/Ai Santa Maria,/que será de mim agora?” “E o papagai dizia: bem, per quant’eu sei, senhora” (Idem, p. 129). A mulher pede ajuda e conselhos a um papagaio e o pede que a entregue à morte: “Ca na morte m’é esta vida” “Diss’el: senhor comprida/ de bem, e non vos queixedes,/ ca o que vos há servida,/ ergued’olho e vee-lo-edes” (Idem, Ibdem). Ao lermos as poesias de brasileiras do século XIX, entramos em uma cena bucólica, sofrendo ainda bastante influência do Arcadismo, embora já estejam no Romantismo. A poeta mineira, Beatriz Brandão- prima da Maria Dorotéia de Seixas ( a cantada Marília de Dirceu), casada, que, embora tenha recebido apenas noções de letras e música, “aprendeu por si mesma, no silêncio do seu gabinete, as regras de poetizar e de escrever a gosto, e depurada crítica sobre matérias, que pareciam vedadas à delicadeza do seu sexo”- em um dos seus poemas, muitos deles publicados no Parnaso Brasileiro, diz: “Suave murmura a fonte/Os brandos ramos se movem,/Ao longe as vozes da Serrana e do Pastor./Abre a rosa matutina/O virgínio rubro seio,/Do Zéfiro doce enleio/Meiga negaça de Amor” (MUZART, 2000: 92). E à bela sulamita é feita uma das mais belas descrições, aliás duas, pois é descrita pelo pastor e por Salomão; e também se expressa descrevendo seu amado. O pastor elogia: “Teus olhos são os das pombas, atrás do teu véu. Teu cabelo é como uma grei de caprídeos. Teus dentes são como uma grei de ovelhas recém- tosquiadas que subiram da lavagem. Teus lábios são como fio escarlate e tua fala é deleitável. Teu pescoço é como a torre de Davi. Teus peitos são como duas crias gêmeas duma fêmea de gazela, que pastam entre os lírios.” (CÂNTICOS, 4: 1-5) Note que o pastor não só admira seus atributos físicos, mas também o que ela fala, sua personalidade. Outra marca dos três textos é a presença de Deus, o clamor a ele por ajuda ou a acusação de culpa pelo sofrimento do eu-lírico: o Cântico faz apenas uma referência, mas esta é marcante: “O amor é tão forte como a morte. Suas labaredas são as labaredas de fogo, a chama de Jah[Jeová]. Mesmo muitas águas não são capazes de extinguir o amor, nem podem os próprios rios levá-lo de enxurrada” (CÂNTICOS, 8: 6,7). A sulamita também enaltece seu Deus por seguir Sua lei e manter-se íntegra e fiel a seu amado, com quem tinha um compromisso. Já nas cantigas o trovador retrata uma mulher que culpa a Deus por estar apaixonada e que se resigna diante do que entende ser a vontade divina, desistir de um amor proibido ou conformar-se com o abandono e a solidão. Em uma cantiga de Martim Codax, jogral galego que tem em seu repertório apenas cantigas de amigo, a mulher recorre às ondas do mar e invoca a Deus: “Ondas do mar de Vigo,/ se vistes meu amigo!/e ai, Deus, se verrá cedo!” (VIERA, 1987: 107). Também, em outra composição de Dom Dinis, lemos uma mulher abandonada que exclama a Deus e pede às flores notícias de seu amigo: “Ai flores, ai flores do verde pino/ Se sabedes novas do meu amigo,/aquel que mentiu do pôs comigo?/Ai Deus, e u é?/ Vós me perguntades polo voss’amigo/ e eu bem vos digo que é san’ e vivo.” (Idem, p. 127) Agora vejamos as denúncias das brasileiras do Romantismo; expressam com profundidade seus sentimentos ao questionarem: se Deus é a fonte do amor e é culpado por amarem, por que esse amor não pode se realizar, por que estão erradas em amar, que Deus cruel é esse, que dá o amor mas o impede de acontecer? Muitas chegam a conclusão de que quem as encerra não é Deus, mas os interesses da sociedade; isto denunciaram as damas da alta sociedade brasileira do século XIX, que se viam obrigadas a casar por interesses familiares (econômicos) e eram apontadas quando transgrediam os padrões morais e sociais. Leremos trechos de poemas nos quais Beatriz Brandão expressa sua angústia: “Justo Deus, quando criaste,/A sensível raça humana,/Quando o pomo lhe vedaste,/Vedaste também o amor?/Se é crime a doce paixão,/Não és deste crime o autor?/Tu os sentidos nos deste,/Tu nos fizestes sensíveis: /E de paixões invencíveis/Nos entregaste ao furor?/ Leis humanas atropelam/Tuas santas leis augustas: /Formalidades injustas/Nos regem a seu sabor./Ambição, vil interesse,/Caprichos, preocupações,/Escravizam corações,/ Que nasceram para amor” (MUZART, 2000: 102, 103). Delfina da Cunha- gaúcha, cega desde a infância, primeira mulher brasileira a editar um livro de poesias, órfã que viveu de um auxílio de D. Pedro I e de realizações de espetáculos teatrais em seu benefício- concretiza a expressão da contemporânea: “Se este Deus tão sup’rior/Viveu sujeito à paixão,/Como há de meu coração/ Libertar-se deste mal,/Se o amor com arma fatal/Combate a minha razão” (Idem, p. 124). Provavelmente a poeta escreve para Manuel Marquês de Souza, por quem sentia uma paixão secreta, um silencioso amor platônico. Os desfechos destas histórias de amor são diferentes: Salomão declama sua derrota e a sublimação do amor pastoril da simples sulamita: “Corre meu querido, e faze-te igual à gazela ou à cria dos veados sobre os montes de especiarias.” (CÂNTICOS, 8: 14) Os trovadores descrevem uma mulher que ama e não é correspondida ou que talvez o seja até ser abandonada. Martim Codax etrata uma mulher que chama, que propõe, mas que não recebe resposta: “ Quantas sabedes amar amigo/treides comig’a lo mar de Vigo/e banhar-nos-emos nas ondas.” (VIERA, 1987: 108) O ser amado é mudo e não ouvimos sua resposta. As poetisas expõem a sua impossibilidade social de perpetuarem seu amor ou a angústia diante do amor solitário e seu sofrimento. A carioca Serafina Pontes, praticamente cega, expressa em seus versos profunda tristeza: “Partiste! Só me deixaste,/Sem de mim ter compaixão./Vou morrer, pois já não posso/Suportar tanta aflição!/Infeliz! Tu não me amas,/Nem sequer tem dó de mim!” (MUZART, 2000: 465). Delfina da Cunha também proclama: “Mas ai e mim! Se acaso por meu dano/Em teu sensível peito houve mudança,/Extingue com a vida o mal tirano.” (Idem, p. 125) E em um soneto completa: “Minha alma loucamente o adorava: / Quem ama como eu, tarde presume / Que amar não deve, que seu mal agrava./Quem jamais tanto amou não sendo amada” (Idem, p. 143). Mas também mostram amores felizes: “Meu coração palpita acelerado,/Exulta de prazer, de amor delira./O meu Tirce de mim vive lembrado,/Saudoso, como eu, por mim suspira;/A amorosa expressão do bem amado!” (Idem, p. 90) Por não poder facilmente realizar seu amor, a baiana Idlefonsa Laura César- de família ilustre e que, antes de seu casamento legal com outro homem, viveu com um estudante de medicina com quem teve uma filha- demonstra em uma lira inveja da pastora: “Quanto invejo da pastora/o viver simples e bom!/Cheirosas flores enrama para as dar ao seu amor./Não fazem sua fortuna/vãs ilusões de grandeza.” (MUZART, 2000: 151) Já, Maria Firmina dos Reis, em um poema intitulado Sonho ou Visão?, descreve: “Nas sombras da noite/Eu sinto teus lábios/Roçar minhas faces/Roçar no meu peito/Que falas mais alto/que juras ardentes,/Que votos de amor./Então eu desperto/Do sonho - ou visão.” (Idem, p. 255) Delfina da Cunha resume numa quadra os sentimentos destas corajosas mulheres que desafiaram a sociedade de sua época: “Gosto de amar; vou amando,/Confesso minha fraqueza;/O crime não é só meu,/É também da natureza.” (Idem, p. 136) Numa expressão que dá a volta às humilhações sofridas pelas mulheres, no poema Desilusão, Serafina Rosa Pontes pede desculpas a um jovem por não amá-lo mais, por tê-lo abandonado: “Desculpa, jovem, se de amar-te deixo./Não compreendeste meu amor tão terno,/Vai pro inferno não te quero amar./Ingênua amei-te por te crer um anjo,/És um marmanjo não te quero amar./Criei juízo, não te quero amar.” (Idem, p. 464) Bibliografia BRITO, Ênio José da Costa & GORGULHO, Gilberto da S. Mulheres e poder religioso: Uma crítica feminista ou "A natureza problemática do óbvio" . In: --- (Org.). Religião Ano 2000. São Paulo: Loyola, 1998, p. 144. CÂNTICOS de Salomão. Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. 3ª ed. São Paulo: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1986 Estudo Perspicaz das Escrituras. São Paulo: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1990. MACEDO, José Rivair. A Mulher na Idade Média. São Paulo: Contexto, 1990. MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras Brasileiras do Século XIX. 2ª ed. Santa Catarina: Mulheres (EDUNISC), 2000. MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras Brasileiras do Século XIX. 2ª ed. Santa Catarina: Mulheres (EDUNISC), 2000. MUZART, Zhidé Lupinacci (org.). Escritoras Brasileiras do Século XIX. 2ª ed.. Santa Catarina: Mulheres (EDUNMISC), 2000. SARAIVA, Antônio José. História da Literatura Portuguesa I- Das origens ao Romantismo. Lisboa: Estúdios Cor, [s/d.]. SARAIVA, José Hermano. Breve História de Portugal. Bertrand, Lisboa, 1981. SOIHET, Rachel. Sutileza, Ironia e Zombaria. In: MURARO, Rose Marie & PUPPIN, Andrea Brandão (org.). Mulher, Gênero e Sociedade. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2001, p. 99-111 Toda a Escritura é Inspirada por Deus. 2 ed., São Paulo, Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1990, p. 115-117 VIERA, Yara Frateschi & MOISÉS, Massaud (dir.). Poesia Medieval. São Paulo: Global, 1987. VIERA, Yara Frateschi & MOISÉS, Massaud (dir.). Poesia Medieval. São Paulo, G




Luciana Guedes (UFF)
Sebastião Votre
(UFF)
O trabalho relaciona textos que têm temática amorosa feminina. Obras em verso escritas por mulheres ou que têm vozes femininas (quando escritas por homens), pertencentes a épocas distintas.
Para tanto, são analisadas cantigas de amigo de cinco trovadores portugueses do século XIII, poemas de cinco poetisas brasileiras do século XIX e o Cântico de Salomão das Escrituras Hebraicas (século XI a.C.).
A sulamita diz: “Vem deveras, ó meu querido, saiamos ao campo, pousemos entre as plantas de hena (...) Ali te darei as minhas expressões de afeto" (CANTICOS, 1986). Também o trovador Dom Dinis usa a voz feminina: “Ai flores do verde ramo,/se sabedes novas do meu amado!” (VIEIRA, 1987: 127). E Ildefonsa Laura César, poetisa brasileira do século XIX, exclama: “Enquanto o sol ardente/deixa passar o calor,/cheirosas flores enrama/ para as dar ao meu amor.” (MUZART, 2000: 151) Esses são exemplos da relação entre os textos: os três têm a presença da mulher como eu- lírico, do seu amado e da natureza como protetora e amiga. Embora se situem em épocas distintas, mantém similaridades, por exemplo, o desejo da mulher, e não apenas ela como objeto desejado.
O trabalho trata dos seguintes tópicos - a biografia dos autores, o contexto histórico- social, os estilos de época, mulher falante vs. mulher objeto e eu- lírico vs. autor. Entre as cantigas de amigo e as poesia do século XIX é possível perceber ainda a evolução e a permanência de estruturas da língua portuguesa.
Ao pesquisar o Cântico de Salomão mostro uma mulher com atitude e vontade, descritas por Salomão, a quem ela rejeitou. Relacionar com as cantigas de amigo traça a diferença entre a atitude feminina bem retratada e a voz da mulher usada para o interesse masculino. E a poesia brasileira feminina do século XIX resgata a visão da mulher em um mundo essencialmente masculino, no qual era descrita pela visão do homem (e.g.: Diva de José de Alencar e Helena de Machado de Assis).
Pretendo chamar atenção para a produção literária feminina e dar uma contribuição aos estudos já existentes sobre o papel da mulher na sociedade e na literatura.
Já que a pesquisa sobre as mulheres na literatura é bastante comum, o estudo das mulheres como personagens e como escritoras, não só na literatura mas em vários campos, como sociologia, história, psicanálise etc.
Desenvolveu-se também a pesquisa de gênero, que mais do que apenas um estudo do papel da mulher é um estudo das relações homem/mulher e das diferenças que a sociedade delimita para estes; e neste campo há um sem número de trabalhos, feministas ou não. O objetivo desta pesquisa não é detectar se há ou não diferenças entre homens e mulheres, ou descobrir o porquê da diferença social entre estes e, muito menos, assumir uma postura radical feminista. O trabalho pretende apenas apresentar a mulher como escritora e chamar atenção para diferentes usos, por homens, da voz feminina na literatura, concordando em alguns momentos com Foucault quando diz que considera uma “indigna loucura” falar pelo outro (BRITO, 1998: 144). Portanto a proposta é fazer um trabalho de análise de textos masculinos e femininos, sempre com vozes femininas, e não uma pesquisa de gênero.
Seria mais fácil se pudesse fazer um análise atemporal dos textos escolhidos, mas para compreendermos as mulheres citadas é preciso enquadrá-las em seu tempo, sua sociedade e sua condição social. Ao selecionar para pesquisa o Cântico de Salomão, entramos no universo israelita do século XI a.C. e ,talvez, o leitor possa pensar que a sociedade israelita, por ser patriarcal, reprimia as mulheres, mas, como veremos no desenvolvimento, essa não era a realidade. No Pentateuco, parte dos textos fundadores judeus, encontramos passagens que determinam o respeito à mulher e seus direitos, por exemplo, em Gênesis 2: 20, Moisés, sob inspiração divina, escreveu que a mulher seria uma ajudadora para o homem, o texto não fala que deveria ser uma serva ou escrava. Também o livro de Deuteronômio 31: 12 relata a mulher participando de uma atividade da comunidade como igual ao homem, quando Moisés ordena que todo o povo esteja presente para a leitura da Lei, ‘homens, mulheres, pequeninos e residentes forasteiros’.
Agora demos um salto para o século XIII d.C., numa sociedade essencialmente católica portuguesa. Percebemos, ao analisar algumas cantigas trovadorescas de amigo, o uso da ironia para desvalorizar a mulher, muitas vezes fazendo um jogo de construção e desconstrução, valorizando a mulher e desvalorizando o homem que não consegue conquistar uma dama para depois debochar da mulher. A sociedade da época, da qual faziam parte os homens que escreveram as cantigas, estava inserida no contexto de uma religião que exclui as mulheres dos papéis importantes na adoração e proibi os que conduzem a adoração de manterem relações sexuais com elas, pela lei do celibato.
O outro campo de análise são poesias escritas por mulheres brasileiras no século XIX d.C., mulheres burguesas que desafiaram sua sociedade ao criticar os padrões que as excluíam da política e da literatura, e as colocavam no “seu lugar”, no âmbito doméstico, cuidando dos filhos e do marido. Algumas poesias tratam de amores proibidos pela sociedade, que aconteceram e foram reprimidos ou que nem tiveram a chance de acontecer.
No desenvolvimento, entraremos mais a fundo nos textos, nos contextos histórico- sociais e numa rápida biografia dos/as autores/as.

O Cântico de Salomão
Escrito por Salomão em Jerusalém no ano de 1020 a. C., mereceu o seguinte comentário do rabino judeu Akiba ( 1º século d.C.): " O mundo inteiro não era digno do dia em que este sublime cântico foi dado a Israel" (Míxena Judaica: Yadakim 3: 5). Também Clarke diz que é " um cântico de extrema perfeição, um dos melhores que já existiram ou que foram escritos." (CLARKE. Commentary . vol.III, p. 841; 1Reis 11: 3)
O seu escritor foi o grande rei Salomão de Israel, filho do rei Davi, da linhagem de Judá, e de Bate- Seba. Construiu em seu reinado (1037-998 a. C.) edifícios governamentais e fez grandes obras no território sob seu domínio, incluindo a construção de cidades- armazéns e grandes muralhas e o primeiro templo para a nação adorar a Jeová, no monte Moriá. Tornou-se um grande comerciante mundial, sua renda anual em ouro era US$ 256,643,000. Não só era o rei mais rico de sua época como também era um rei sábio, tornando a nação próspera e feliz. Também era um admirador das artes, possuía em sua casa e no templo harpas e instrumentos de corda e escreveu alguns Salmos, Provérbios e Eclesiastes (livros bíblicos). Amava muitas mulheres, e dentre suas esposas estava uma filha de Faraó. No fim de sua vida, tinha 700 esposas e 300 concubinas (Gênesis 3: 20).
O famoso cântico é um poema idílico, inserido na poesia hebraica do século XI a.C. Salomão retrata a história de quando não conseguiu impressionar e conquistar uma jovem simples por quem se enamorou. O poema possuí três personagens principais: Salomão, a sulamita e um pastor. A história se passa, inicialmente, perto de Suném, ou Sulém (atual Sulam), terra natal da sulamita, onde Salomão está acampado com sua comitiva e para onde a sulamita vai à procura de seu amado pastor. Salomão a detém em seu acampamento e a leva para Jerusalém, para onde o pastor vai, seguindo sua amada. Num momento raro da literatura, o autor relata as belas juras de amor da sulamita, do pastor e dele mesmo e o desfecho - Salomão a deixa partir, reconhecendo seu fracasso em conquistá-la e, nos versos, eterniza a sublime união do pastor com sua amada sulamita.
Em vários momentos Salomão escreve em voz feminina, da sulamita, expressando o grande amor que ela sentia pelo pastor e a recusa de unir-se a Salomão. Usa a voz feminina mas não deturpa a história para mostrar mais uma conquista; com honestidade, mostra admiração por aquele grande amor e pela firmeza da sulamita.
A expressão hebraica para mulher, 'ish.sháh, significa literalmente "homem feminino". A sociedade israelita dos tempos bíblicos era patriarcal, na qual a mulher era criada para casar e ter filhos e era vista como ajudadora para o homem; nas Escrituras Hebraicas, a primeira mulher da humanidade chama-se Eva, que em hebraico, Hhaw.wáh, tem o significado de vida ou vivente, porque ela tornar-se-ía " mãe de todos os viventes"8 . A mulher hebréia deveria servir a Deus em primeiro lugar e, depois, obedecer ao marido e instruir os filhos. As moças eram treinadas na arte de cozinhar, tecer e administrar a casa. Mas, embora fosse o pai que escolhesse a esposa para o filho, a mulher podia expressar sua vontade e não se tornava uma esposa calada, tinha liberdade para se expressar com o marido e às vezes ajudava-no a tomar decisões. Possuía seus direitos e deveres dentro da Lei, por exemplo, a Lei aplicava-se igualmente tanto aos homens como às mulheres culpados de adultério, já que a poligamia era regulamentada, e elas podiam participar dos benefícios dos sábados e nas festividades. A Lei também ordenava que ambos, o pai e a mãe, fossem obedecidos. É a esta sociedade que o poeta Salomão pertencia.

As cantigas de amigo
As cantigas de amigo são um tipo dentre as cantigas do Trovadorismo, poesias feitas para serem entoadas nas ruas acompanhadas por música. Compostas por trovadores, cantadas por eles mesmos ou apenas por cantores, os jograis; assim eram as cantigas portuguesas do século XIII.
No início deste século, Portugal vivia, sob o reinado de D. Afonso II, um período de desenvolvimento comercial e expansão econômica e a consolidação de uma sociedade extremamente religiosa católica e com resquícios e influências do domínio árabe na região. Já no final do século, o rei D. Dinis incentivou a cultura nacional, determinando que os documentos oficias fossem escritos em português e não mais em latim e criando a primeira universidade portuguesa, a Universidade de Coimbra.
Na literatura medieval havia a poesia lírica francesa, escrita em provençal, a poesia ibérica épica, em castellano, e a poesia ibérica lírica, em galego- português; é a esta última que as cantigas de amigo pertencem. Estas possuem um caráter local e, por comunicarem-se por via oral, são rítmicas e versificadas.
As cantigas de amigo eram compostas por homens usando a voz feminina, tratavam de temas femininos, como o da mulher só, cujo "amigo" (amado/amante) foi para a guerra ou para o mar, o da mulher abandonada e o da mulher feliz. Estas cantigas, provavelmente, são influência da literatura árabe, na qual um gênero de cantares é a regueifa, que usa temas femininos, escritos por homens como se fossem mulheres. Na maior parte das cantigas os trovadores usam a voz da mulher para transmitir o ponto de vista masculino sobre sentimentos e atitudes femininos e ironizar a mulher que tentava transgredir os padrões sociais, usando o tema do amor, da coita (ou sofrimento) e da morte por amor.
Na sociedade portuguesa do século XIII as mulheres, mesmo as damas da corte, não tinham um papel importante, ou mesmo um papel, na produção intelectual. A maioria delas nem sabiam ler e escrever, viviam para criação dos filhos e cuidar do marido, escolhido por seus pais, muitas vezes por interesses econômicos, eram mulheres mudas social e intelectualmente, não tinham o direito de expressar o que sentiam ou o que achavam sobre o mundo. Tinham apenas o dever de serem obedientes esposas e fervorosas católicas.
O pouco que sabemos sobre como, realmente, eram é por mulheres que desobedeceram a sociedade, como as trobairitz francesas, que dominaram a escrita e penetraram no mundo intelectual, escrevendo trovas e contos que demonstraram que as mulheres sentem, desejam e lutam pelos seus homens.

As poesia do século XIX
Trato aqui de poesias escritas por mulheres no Brasil do século XIX. Inseridas em um contexto intelectual essencialmente masculino. Época dos grandes escritores do Romantismo que em sua obras resgatavam mitos nacionais, criticavam a sociedade burguesa e mostravam sua visão do mundo através da história de grandes e marcantes personagens femininas: burguesas e mulheres simples que entraram para a história da literatura da literatura brasileira como retratos de uma época; retratos pintados por homens inseridos em uma sociedade machista.
Sociedade que cultivava nas mulheres os valores essenciais: donas- de- casa exemplares, mães dedicadas, zelosas católicas e habilidosas bordadeiras, grandes damas da sociedade etc. Enquanto qualidades consideradas masculinas, como escrever e participar da política, eram socialmente vetadas; a elas cabia apenas o papel de ler os folhetins.
O Brasil da época crescia com o café e nele também crescia o gosto pelos salões do império ao mesmo tempo que o sonho da república. Grandes políticos e jornais começaram a incentivar a criação da república e a defender o fim da escravidão. E mulheres corajosas passaram a defender em artigos de jornais e revistas femininas o direito ao voto.
Sempre existiram mulheres que enfrentaram a sociedade de sua época e, no século XIX no Brasil, grandes poetisas expuseram seus sentimentos e suas opiniões em sonetos, quadras, liras, em fim, em versos. As poesias selecionadas são de mulheres escrevendo em primeira pessoa sobre suas ilusões e desilusões amorosas e declarando seu amor a um desejado homem. São poesias com as características marcantes do Romantismo, só que escritas por mulheres que nos deixaram uma amostra de quem elas realmente eram.

As relações
A relação da mulher com a natureza e com uma amiga é similar no Cântico de Salomão e nas cantigas de amigo. No Cântico a sulamita conversa com as mulheres de Jerusalém e com algumas damas da corte de Salomão, sempre numa relação de confidência; e em algumas cantigas vemos a mulher falar do amigo com a mãe e receber conselhos dela. Tomemos como exemplo este trecho em que a sulamita fala sobre si mesma às mulheres de Jerusalém: “Sou uma moça preta, mas linda, ó filhas de Jerusalém./ Se tu não sabes, ó mais bela entre as mulheres, sai tu mesma nas pegadas do rebanho e apascenta tuas cabritinhas.” (CÂNTICOS, 1: 5). Também, Joam Garcia de Guilhade, trovador da segunda metade do século XIII, que pertencia à pequena nobreza portuguesa e tem em sua obra 21 cantigas de amigo, em uma das cantigas diz na voz da mulher: “Quer’eu amigas, o mundo loar/por quanto bem mi nostro Senhor fez: /fez-me fremosa e de mui bom prez,/as faz meu amigo muit’amar” (VIERA, 1987: 109). Continuando na relação cantiga- Cântico destaco duas declarações a homens amados- uma feita pela sulamita a seu pastor e outra por um eu- lírico duma cantiga- a sulamita exclama: “ Beije-me ele com os beijos da sua boca. Teu nome é como um óleo que se despeja. Por isso é que te amaram as próprias donzelas” (CÂNTICOS, 1: 2,3). E recebe a resposta: “Como lírio entre as plantas espinhosas, assim é minha companheira entre as filhas.” (CÂNTICOS, 2: 2) Agora o trovador canta: “Tal vai o meu amigo/com amor que lh’eu dei,/come cervo ferido” (VIERA, 1987: 103). E ouve a advertência: “E guardade-vos, filha,/ ca ja m’eu atal vi/ que se fezo coitado/ por guaanhar de mim.” (Idem, Ibidem) encontrando uma resposta muda de seu amado.
Nas cantigas de amigo, nas poesias do século XIX e no Cântico de Salomão é marcante a presença da natureza, atuando como protetora e amiga ou servindo para descrever o ser amado. Infelizmente a natureza também é usada para ironizar- em uma das cantigas a mulher dialoga com um papagaio, que abre seus olhos quanto a que foi abandonada. Falo de uma cantiga do rei de Portugal (1279-1325), Dom Dinis, que procurou seguir uma política de proteção e desenvolvimento da cultura e compôs, dentre outras, 51 cantigas de amigo: “Amigo loução,/que faria per amores / pois m’erraste tam em vão?/Ai Santa Maria,/que será de mim agora?” “E o papagai dizia: bem, per quant’eu sei, senhora” (Idem, p. 129). A mulher pede ajuda e conselhos a um papagaio e o pede que a entregue à morte: “Ca na morte m’é esta vida” “Diss’el: senhor comprida/ de bem, e non vos queixedes,/ ca o que vos há servida,/ ergued’olho e vee-lo-edes” (Idem, Ibdem). Ao lermos as poesias de brasileiras do século XIX, entramos em uma cena bucólica, sofrendo ainda bastante influência do Arcadismo, embora já estejam no Romantismo. A poeta mineira, Beatriz Brandão- prima da Maria Dorotéia de Seixas ( a cantada Marília de Dirceu), casada, que, embora tenha recebido apenas noções de letras e música, “aprendeu por si mesma, no silêncio do seu gabinete, as regras de poetizar e de escrever a gosto, e depurada crítica sobre matérias, que pareciam vedadas à delicadeza do seu sexo”- em um dos seus poemas, muitos deles publicados no Parnaso Brasileiro, diz: “Suave murmura a fonte/Os brandos ramos se movem,/Ao longe as vozes da Serrana e do Pastor./Abre a rosa matutina/O virgínio rubro seio,/Do Zéfiro doce enleio/Meiga negaça de Amor” (MUZART, 2000: 92). E à bela sulamita é feita uma das mais belas descrições, aliás duas, pois é descrita pelo pastor e por Salomão; e também se expressa descrevendo seu amado. O pastor elogia: “Teus olhos são os das pombas, atrás do teu véu. Teu cabelo é como uma grei de caprídeos. Teus dentes são como uma grei de ovelhas recém- tosquiadas que subiram da lavagem. Teus lábios são como fio escarlate e tua fala é deleitável. Teu pescoço é como a torre de Davi. Teus peitos são como duas crias gêmeas duma fêmea de gazela, que pastam entre os lírios.” (CÂNTICOS, 4: 1-5) Note que o pastor não só admira seus atributos físicos, mas também o que ela fala, sua personalidade.
Outra marca dos três textos é a presença de Deus, o clamor a ele por ajuda ou a acusação de culpa pelo sofrimento do eu-lírico: o Cântico faz apenas uma referência, mas esta é marcante: “O amor é tão forte como a morte. Suas labaredas são as labaredas de fogo, a chama de Jah[Jeová]. Mesmo muitas águas não são capazes de extinguir o amor, nem podem os próprios rios levá-lo de enxurrada” (CÂNTICOS, 8: 6,7). A sulamita também enaltece seu Deus por seguir Sua lei e manter-se íntegra e fiel a seu amado, com quem tinha um compromisso. Já nas cantigas o trovador retrata uma mulher que culpa a Deus por estar apaixonada e que se resigna diante do que entende ser a vontade divina, desistir de um amor proibido ou conformar-se com o abandono e a solidão. Em uma cantiga de Martim Codax, jogral galego que tem em seu repertório apenas cantigas de amigo, a mulher recorre às ondas do mar e invoca a Deus: “Ondas do mar de Vigo,/ se vistes meu amigo!/e ai, Deus, se verrá cedo!” (VIERA, 1987: 107). Também, em outra composição de Dom Dinis, lemos uma mulher abandonada que exclama a Deus e pede às flores notícias de seu amigo: “Ai flores, ai flores do verde pino/ Se sabedes novas do meu amigo,/aquel que mentiu do pôs comigo?/Ai Deus, e u é?/ Vós me perguntades polo voss’amigo/ e eu bem vos digo que é san’ e vivo.” (Idem, p. 127)
Agora vejamos as denúncias das brasileiras do Romantismo; expressam com profundidade seus sentimentos ao questionarem: se Deus é a fonte do amor e é culpado por amarem, por que esse amor não pode se realizar, por que estão erradas em amar, que Deus cruel é esse, que dá o amor mas o impede de acontecer? Muitas chegam a conclusão de que quem as encerra não é Deus, mas os interesses da sociedade; isto denunciaram as damas da alta sociedade brasileira do século XIX, que se viam obrigadas a casar por interesses familiares (econômicos) e eram apontadas quando transgrediam os padrões morais e sociais. Leremos trechos de poemas nos quais Beatriz Brandão expressa sua angústia: “Justo Deus, quando criaste,/A sensível raça humana,/Quando o pomo lhe vedaste,/Vedaste também o amor?/Se é crime a doce paixão,/Não és deste crime o autor?/Tu os sentidos nos deste,/Tu nos fizestes sensíveis: /E de paixões invencíveis/Nos entregaste ao furor?/ Leis humanas atropelam/Tuas santas leis augustas: /Formalidades injustas/Nos regem a seu sabor./Ambição, vil interesse,/Caprichos, preocupações,/Escravizam corações,/ Que nasceram para amor” (MUZART, 2000: 102, 103). Delfina da Cunha- gaúcha, cega desde a infância, primeira mulher brasileira a editar um livro de poesias, órfã que viveu de um auxílio de D. Pedro I e de realizações de espetáculos teatrais em seu benefício- concretiza a expressão da contemporânea: “Se este Deus tão sup’rior/Viveu sujeito à paixão,/Como há de meu coração/ Libertar-se deste mal,/Se o amor com arma fatal/Combate a minha razão” (Idem, p. 124). Provavelmente a poeta escreve para Manuel Marquês de Souza, por quem sentia uma paixão secreta, um silencioso amor platônico.
Os desfechos destas histórias de amor são diferentes:
Salomão declama sua derrota e a sublimação do amor pastoril da simples sulamita: “Corre meu querido, e faze-te igual à gazela ou à cria dos veados sobre os montes de especiarias.” (CÂNTICOS, 8: 14)
Os trovadores descrevem uma mulher que ama e não é correspondida ou que talvez o seja até ser abandonada. Martim Codax etrata uma mulher que chama, que propõe, mas que não recebe resposta: “ Quantas sabedes amar amigo/treides comig’a lo mar de Vigo/e banhar-nos-emos nas ondas.” (VIERA, 1987: 108) O ser amado é mudo e não ouvimos sua resposta.
As poetisas expõem a sua impossibilidade social de perpetuarem seu amor ou a angústia diante do amor solitário e seu sofrimento. A carioca Serafina Pontes, praticamente cega, expressa em seus versos profunda tristeza: “Partiste! Só me deixaste,/Sem de mim ter compaixão./Vou morrer, pois já não posso/Suportar tanta aflição!/Infeliz! Tu não me amas,/Nem sequer tem dó de mim!” (MUZART, 2000: 465). Delfina da Cunha também proclama: “Mas ai e mim! Se acaso por meu dano/Em teu sensível peito houve mudança,/Extingue com a vida o mal tirano.” (Idem, p. 125) E em um soneto completa: “Minha alma loucamente o adorava: / Quem ama como eu, tarde presume / Que amar não deve, que seu mal agrava./Quem jamais tanto amou não sendo amada” (Idem, p. 143). Mas também mostram amores felizes: “Meu coração palpita acelerado,/Exulta de prazer, de amor delira./O meu Tirce de mim vive lembrado,/Saudoso, como eu, por mim suspira;/A amorosa expressão do bem amado!” (Idem, p. 90)
Por não poder facilmente realizar seu amor, a baiana Idlefonsa Laura César- de família ilustre e que, antes de seu casamento legal com outro homem, viveu com um estudante de medicina com quem teve uma filha- demonstra em uma lira inveja da pastora: “Quanto invejo da pastora/o viver simples e bom!/Cheirosas flores enrama para as dar ao seu amor./Não fazem sua fortuna/vãs ilusões de grandeza.” (MUZART, 2000: 151)
Já, Maria Firmina dos Reis, em um poema intitulado Sonho ou Visão?, descreve: “Nas sombras da noite/Eu sinto teus lábios/Roçar minhas faces/Roçar no meu peito/Que falas mais alto/que juras ardentes,/Que votos de amor./Então eu desperto/Do sonho - ou visão.” (Idem, p. 255)
Delfina da Cunha resume numa quadra os sentimentos destas corajosas mulheres que desafiaram a sociedade de sua época: “Gosto de amar; vou amando,/Confesso minha fraqueza;/O crime não é só meu,/É também da natureza.” (Idem, p. 136)
Numa expressão que dá a volta às humilhações sofridas pelas mulheres, no poema Desilusão, Serafina Rosa Pontes pede desculpas a um jovem por não amá-lo mais, por tê-lo abandonado: “Desculpa, jovem, se de amar-te deixo./Não compreendeste meu amor tão terno,/Vai pro inferno não te quero amar./Ingênua amei-te por te crer um anjo,/És um marmanjo não te quero amar./Criei juízo, não te quero amar.” (Idem, p. 464)

Bibliografia
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CÂNTICOS de Salomão. Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. 3ª ed. São Paulo: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1986
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MACEDO, José Rivair. A Mulher na Idade Média. São Paulo: Contexto, 1990.
MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras Brasileiras do Século XIX. 2ª ed. Santa Catarina: Mulheres (EDUNISC), 2000.
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SARAIVA, Antônio José. História da Literatura Portuguesa I- Das origens ao Romantismo. Lisboa: Estúdios Cor, [s/d.].
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Toda a Escritura é Inspirada por Deus. 2 ed., São Paulo, Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1990, p. 115-117
VIERA, Yara Frateschi & MOISÉS, Massaud (dir.). Poesia Medieval. São Paulo: Global, 1987.
VIERA, Yara Frateschi & MOISÉS, Massaud (dir.). Poesia Medieval. São Paulo, Global, 1987
VIERA, Yara Frateschi & MOISÉS, Massaud (dir.). Poesia Medieval. São Paulo, Global, 1987,p.103. Cantiga de Pero Meogo, clérigo galego que só compôs cantigas de amigo, nove.

Meu Resultado das Provas do ENEM.


Enem 2012 - Resultados
120160246467
MARCIA REGINA BARBOSA DA SILVA
***.***.***-**
ProvaNotaSituação
Ciências Humanas e suas Tecnologias674.8Presente
Ciências da Natureza e suas Tecnologias530.3Presente
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias617.1Presente
Matemática e suas Tecnologias572.7Presente
Redação720.0Presente





Média geral no ENEM.  622.98

Minha prova de redação no ENEM 2012

Vejo que o efeito de meu nervosismo me fez cometer erros gramaticais muito estúpidos, e creio que isto fez com que minha pontuação não fosse das melhores.Mesmo assim ainda tenho muito o que agradecer a D'us pois muita gente que se matou de estudar ficou muito mais nervosa que eu e fez provas que não condizem com sua capacidade intelectual.

Enem2012- Resultados

Vista pedagógica da Redação

120160246467
MARCIA REGINA BARBOSA DA SILVA
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Prezado participante, Apresentamos o seu desempenho na prova de Redação do Enem 2012.
Nosso objetivo é fornecer subsídios pedagógicos quanto à sua atuação em cada uma das competências.
Sua pontuação em cada competência pode variar de 0 a 200 pontos.

COMPETÊNCIA 1 Demonstrar domínio da norma da língua escrita.
Sua nota nessa competência foi: 160.0
Você atingiu 80% da Competência 1, atendendo aos critérios definidos a seguir. O participante demonstra bom domínio da norma padrão, apresentando poucos desvios gramaticais leves e de convenções da escrita. Assim, o mesmo desvio não ocorre em várias partes do texto, o que revela que as exigências da norma padrão foram incorporadas aos seus hábitos linguísticos, e os desvios foram eventuais. Desvios mais graves não impedem que a redação receba essa pontuação, desde que não se repitam regularmente no texto. Assim, o participante que realiza poucos desvios leves ou raros desvios graves receberá essa pontuação.


COMPETÊNCIA 2 Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
Sua nota nessa competência foi: 160.0
Você atingiu 80% da Competência 2, atendendo aos critérios definidos a seguir. O participante desenvolve bem o tema, mas não explora os seus aspectos principais. Desenvolve uma argumentação consistente e apresenta bom domínio do tipo textual dissertativo-argumentativo, embora ainda possa apresentar alguns problemas no desenvolvimento das ideias. Os argumentos defendidos não ficam restritos à reprodução das ideias contidas nos textos motivadores nem a questões do senso comum.


COMPETÊNCIA 3 Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Sua nota nessa competência foi: 120.0
Você atingiu 60% da Competência 3, atendendo aos critérios definidos a seguir. O participante apresenta informações, fatos, opiniões e argumentos pertinentes ao tema proposto, porém os organiza e os relaciona de forma pouco consistente, em defesa de seu ponto de vista. As informações são aleatórias e desconectadas entre si, embora relacionadas ao tema. O texto revela pouca articulação entre os argumentos.


COMPETÊNCIA 4 Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
Sua nota nessa competência foi: 160.0
Você atingiu 80% da Competência 4, atendendo aos critérios definidos a seguir. O participante articula as partes do texto, com poucas inadequações, o que faz demonstrar domínio dos recursos coesivos. O texto poderá, no entanto, conter alguns desvios nos recursos coesivos.


COMPETÊNCIA 5 Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
Sua nota nessa competência foi: 120.0
Você atingiu 60% da Competência 5, atendendo aos critérios definidos a seguir. O participante elabora proposta de intervenção relacionada ao tema, mas pouco articulada à discussão desenvolvida no texto.

Nota Final Situação: Presente
Sua nota final foi: 720.0
No gráfico abaixo está destacado o grupo em que você se encontra.
Assim, você poderá visualizar o seu desempenho em comparação aos demais participantes do Enem.
Gráfico da nota final.